Rondônia, tradicionalmente um dos estados com maiores taxas de desmatamento da Amazônia Legal, também lidera em outro indicador: foi o destino de 30% das máquinas pesadas compradas com emendas parlamentares na região nos últimos dez anos. O levantamento aponta que 507 equipamentos, custeados com cerca de R$ 319 milhões, foram destinados ao estado entre 2015 e 2025, entre tratores de esteira, escavadeiras hidráulicas, retroescavadeiras, pá carregadeiras, motoniveladoras e rolos compactadores.
O uso das máquinas, financiadas por programas federais e emendas individuais de deputados e senadores, é alvo de debate. Técnicos ambientais alertam que equipamentos desse tipo facilitam o desmatamento, permitindo abertura de estradas, instalação de garimpos e retirada de vegetação nativa, especialmente quando utilizados sem fiscalização.
Emendas e programas federais
Grande parte do maquinário enviado a Rondônia veio do Programa Calha Norte, que recebeu 402 equipamentos para o estado, totalizando R$ 234,1 milhões — mais da metade dos 755 equipamentos entregues pelo programa em toda a Amazônia Legal. Outros ministérios, como os da Integração e Desenvolvimento Regional e da Agricultura, também financiaram a aquisição de dezenas de equipamentos para municípios como Porto Velho.
Organizações não-governamentais questionam o uso dessas emendas, levando casos ao Supremo Tribunal Federal (STF) e pedindo investigação sobre a destinação do maquinário em áreas de floresta e terras indígenas.
Evolução do desmatamento na Amazônia e em Rondônia
Apesar do volume de máquinas pesadas e das críticas sobre seu uso, dados recentes mostram uma redução no desmatamento:
- Amazônia Legal (agosto/2024 a julho/2025): 5.796 km² desmatados, queda de 11,08% em relação ao período anterior.
- Rondônia: redução de cerca de 33% no mesmo período, mantendo-se ainda como um dos estados com maior desmate absoluto.
- Causas apontadas: maior fiscalização, monitoramento via satélite e ações coordenadas do governo, incluindo o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm).
Apesar da queda, especialistas alertam que o uso intensivo de máquinas pesadas pode reverter rapidamente esses ganhos, se não houver fiscalização rigorosa e políticas públicas de proteção ambiental.
Críticas e contradições
Enquanto bilhões em emendas parlamentares foram destinados à compra de maquinário pesado, menos de 1% dos recursos foram destinados ao Ministério do Meio Ambiente nos últimos dez anos. ONGs e especialistas apontam que esse desequilíbrio de investimentos pode favorecer o desmatamento, mesmo em um contexto de redução recente.
O debate envolve a necessidade de equilibrar desenvolvimento regional, infraestrutura e proteção ambiental, e as emendas parlamentares para compra de máquinas na Amazônia permanecem sob análise de órgãos de fiscalização e Justiça.