A cerveja artesanal produzida no porão da Igreja Nossa Senhora da Glória, em Juiz de Fora (MG), acaba de conquistar mais um reconhecimento internacional. A Hofbauer, mantida há mais de 130 anos por religiosos da Congregação Redentorista, recebeu medalha de ouro no Brazilian International Beer Awards (BBA), realizado na última segunda-feira (10) em Alagoinhas, na Bahia. O prêmio foi concedido à Weissbier, uma cerveja de trigo no estilo alemão, que obteve nota 97 de 100 entre 1.400 rótulos inscritos na competição.
“Nos concursos, enviamos nossas cervejas para avaliação em todo o país e no exterior. A apuração é feita ao vivo pela internet. Só os jurados participam presencialmente, e nós acompanhamos tudo pelas redes”, explicou o mestre cervejeiro Taylor Bertoli, responsável pela produção no convento.
O Brazilian International Beer Awards, realizado durante o Bahia Beer Festival, é considerado o maior concurso de bebidas independentes da América Latina. A Hofbauer competiu na categoria German-Style Leichtes Weizen, e seu rótulo premiado foi descrito como uma cerveja amarela clara, turva, de espuma cremosa, com aroma de cravo, frutas maduras e toque cítrico, além de baixo amargor e corpo leve.
“Temos sete estilos de cerveja e ganhamos medalha de ouro com a Weissbier, que é feita com pelo menos 50% de trigo. ‘Weiss’ significa ‘branca’ em alemão, referindo-se à sua cor, e ‘bier’ significa cerveja”, destacou Bertoli.
Segundo ele, as avaliações são baseadas em critérios sensoriais, como aroma, aparência, sabor e equilíbrio, e o retorno dos jurados é essencial para aperfeiçoar as receitas. “Ganhar uma premiação aumenta a visibilidade da marca e reforça a credibilidade no meio cervejeiro. Além disso, permite trocar experiências com produtores de todo o mundo”, afirmou.
Este é o quarto prêmio conquistado pela Hofbauer em 2025, ano em que passou a participar de competições. A cervejaria já havia recebido ouro em um concurso mineiro realizado em Juiz de Fora e bronze no festival internacional de Arequipa, no Peru.
Tradição centenária em solo mineiro
A história da cervejaria Hofbauer remonta a 1894, quando os missionários holandeses Padre Mathias Tulkens e Padre Francisco Lohmeyer, da Congregação Redentorista, chegaram a Juiz de Fora. Inspirados na tradição europeia das abadias que produziam cervejas artesanais, os religiosos fundaram a fábrica no porão da igreja.
No início, a produção era feita em caldeirões simples, mas em 1907 chegaram ao Brasil as máquinas importadas da Holanda, que seguem em funcionamento até hoje. A cervejaria leva o nome de São Clemente Maria Hofbauer, santo austríaco da congregação, e se tornou um símbolo histórico e cultural da cidade.
Atualmente, a produção é feita em pequenos lotes de cerca de 350 litros, quatro vezes ao ano. Cada remessa leva em torno de 40 dias para ficar pronta, respeitando o tempo de fermentação e maturação. Toda a renda obtida com as vendas é revertida para projetos sociais mantidos pela instituição religiosa.
Sete estilos e uma mesma essência
A Hofbauer oferece atualmente sete estilos de cerveja artesanal, cada um seguindo processos específicos de fermentação e maturação:
- Pilsen – clara, levemente turva, com aroma maltado e toque cítrico
- Belgian Blond Ale – dourada e brilhante, com aroma de banana e sabor adocicado
- Belgian Pale Ale – cobre escuro, com notas de caramelo e leve teor alcoólico
- Belgian Dubbel – âmbar escuro, sabor caramelizado e aroma de passas e ameixas
- Weissbier – turva, com aroma de cravo e frutas maduras, feita com malte de cevada e trigo
- Session IPA – leve e refrescante, com aroma cítrico e final seco
- Russian Imperial Stout (RIS) – escura e encorpada, com sabor intenso de maltes torrados
Cerveja do convento: fé, história e sabor
A Cervejaria Hofbauer é considerada a mais antiga cervejaria de convento em funcionamento no Brasil, e possivelmente na América Latina. O espaço, aberto à visitação, preserva o maquinário original do século XIX e recebe turistas em roteiros culturais, como o projeto “Caminhando pela História”, organizado pela Secretaria de Turismo de Juiz de Fora.
As visitas acontecem aos sábados, mediante agendamento, para grupos de até 30 pessoas. O ingresso custa R$ 65 e inclui degustação de três cervejas, pão e bolinho de cevada. As garrafas são vendidas na Biblioteca Redentorista da Igreja da Glória e também pelo site oficial, com entrega em todo o país.
Para os religiosos, a Hofbauer vai muito além de uma bebida: é uma forma de preservar uma tradição secular e manter viva a história da Congregação Redentorista, unindo fé, cultura e sabor. “A ideia é que as pessoas conheçam o espaço, entendam a história e percebam como a cerveja pode expressar também o cuidado, a dedicação e a espiritualidade”, resume o padre Jonas Pacheco, um dos responsáveis pelo convento.
Planos para o futuro
Para o futuro, os padres responsáveis pela Hofbauer esperam aumentar a capacidade de produção e passar a fabricar uma cerveja envelhecida em uma adega que também faz parte da estrutura do convento. Além disso, querem realizar um novo festival para colocar as bebidas da marca em evidência em Juiz de Fora.
Os padres também esperam que a cervejaria receba visitantes com os atrativos de um museu histórico dentro de um convento. “A ideia é a de que o espaço funcione como um local em que as pessoas possam conhecê-lo porque é uma cervejaria totalmente artesanal, com o seu maquinário de mais de cem anos em perfeito estado de conservação e em funcionamento. A ideia também é que as pessoas possam entender essa história cervejeira, que tem uma relação com a igreja”, finaliza o padre Jonas Pacheco.
Pra acompanhar? Queijo!

Os Redentoristas, além da tradicional Cerveja do Convento – Hofbauer, também produz um delicioso queijo meia-cura chamado Ligório.
Ele é feito no Seminário da Floresta, em Juiz de Fora, e está à venda na Biblioteca Redentorista (Av. dos Andradas, 855 – Morro da Glória), de segunda a sexta, das 8h às 18h.